segunda-feira, 7 de julho de 2014

Afinal, o que é "CKD" e porque se diz ser "nacionalização" de motos?

Volta e meia, quando falo que tal moto passará a ser montada no Brasil via "CKD" - como vem ocorrendo cada vez mais com os modelos da BMW e outras motos "Premium" - vejo que o pessoal fica com aquela cara de dúvida com o que vem a ser exatamente o tal de "CKD". 



Até bem pouco tempo atrás, nem eu sabia exatamente o que era "CKD" e, principalmente, não sabia por que raios a moto ficava mais barata quando montada aqui do que se importada inteira (não era tudo importado da mesma forma? Qual a diferença?). Um pouco de pesquisa e descobri alguma coisa principalmente quanto as vantagens e desvantagens de tal método.

Primeiramente, vamos ao significado de C.K.D: do inglês, Complete Knock Down. Batida Direto para Baixo? Quase isso... Algo que poderia ser melhor traduzido como aproximadamente Peças/Estrutura Completamente Desmontadas! Tudo vem em caixas separadas, em lotes. Por exemplo, uma caixa com 12 rodas frontais e 12 rodas traseiras, uma com 12 motores, uma com 12 tanques, outra 12 painéis, etc., tudo separado que juntando monta 12 motos.

Para você ir se acostumando com os termos, pense que antes as motos vinham em "CBU" (Complete Build Up, ou algo como completamente montadas, cada uma em uma caixa). Agora vem desmontada, em lotes de caixas, por partes. Entendeu? 

Bom... Se ainda não, lembre dos kits Revell, que a gente montava quando pequenos (e só sonhava com as motos). Pois é. É isso. Só que no lugar de um aviãozinho de plástico em escala 1/48 ou uma moto em escala 1/12, ou menor prá montar e pintar que não voa/não anda, vem uma moto em escala 1/1 que depois de montada, anda. E já vem pintada! Só que em vez de virem todas as peças em uma caixa só, cada "lote" para montar várias, vem em uma caixa separada. Seria como você comprar uma caixa de rodas para montar 12 motos Revell, outra caixa com os 12 frames, outra com 12 motores, etc., e no final, com todas as caixas compradas, chamar os amigos e cada um montar uma parte para agilizar tudo. Um monta os garfos nos frames, o seguinte já coloca as rodas, o terceiro encaixa os motores, o próximo engata as relações, um para os painéis, outro vai montar o chicote elétrico e lá pelo último coloca as carenagens...

Enfim, tudo um grande "Revell". De resto tudo igual. Muito plástico, algumas partes de metal e parafusos no lugar da cola. E quem junta as partes, são as montadoras. Simples, não? 

Até aqui tudo bem. Mas... E as perguntas que não querem calar? Porque fazer o serviço de montagem aqui e não trazer as mesmas já montadas, lá de fora? Porque que, quando montadas aqui, as motos ficam mais baratas?

Bom... Aí é uma série de fatores, mas, em geral, se pode dizer que a mão de obra aqui não é lá tão especializada/qualificada ou melhor - para não ofender os mais desentendidos ou os que só conseguem enxergar o lado ruim de tudo no Brasil - não tão cara, não com tantos sedizentes "benefícios" ao trabalhador que só servem para onerar unilateralmente o empresário, repassando a este o custo e a obrigação governamental de saúde, educação, acesso à moradia, etc. Quanto você imagina que vai ganhar um "montador" de uma BMW R1200GS na "fábrica" (montadora!) da Dafra aqui? E quanto você imagina que ganha um alemão com mesma função lá na BMW de Munique, na Alemanha? Não é preciso ser gênio para imaginar que nossos salários aqui são bem menores - mesmo com os "custos trabalhistas" - e que as "despesas com a montagem", se torna bem menor. 

Quando se fala em "fábrica" ou "montadora", você tem de pensar que tudo é primeiramente custo. Ora... Porque você acha que o mundo está dominado pelos produtos chineses? Simples! Porque a mão de obra lá vale pouco mais do que nada. Por outro lado, os funcionários chineses normalmente ganham por produção, por vezes nem tendo salário fixo ou tantos "direitos" trabalhistas. Assim, quanto mais peças fabricam/montam, mais dinheiro colocam no bolso. 

(Só à título triste de ironia, fico imaginando isso no Brasil... A equipe que mais montasse motos, mais ganhasse. E de cara vejo que não funcionaria e seria estopim de conflitos. Fora que seria um prato cheio para o Ministério Público do Trabalho e sobretudo para os Sindicatos. É. Melhor nem pensar!)

Além do custo de mão de obra, normalmente há por parte do governo um "incentivo fiscal" para a montadora, representado, via de regra, por desconto substancial em impostos de importação, de ICMS, IPTU ou tantos outros. Assim, em vez de arcar com custo de, vamos chutar!, 30% na importação da moto inteira, paga 10% na importação de cada caixa de lote de rodas, motores, etc. Afinal está gerando mais empregos, trazendo oportunidades indiretas, aquecimento na economia, blá, blá, blá...

Tira daqui, puxa dali, conte com uma redução mínima de 10% até 15% ou mais no valor final da moto montada via "CKD" aqui.

E quanto a qualidade? Como fica se a moto, bem ou mal, continua "importada". Afinal, são todas as partes fabricadas lá fora. Qual a diferença em ser montada por um alemão centrado ou por um brasileiro revoltado (com a falta de oportunidade, falta de condições de saúde, problema de moradia, educação dos filhos, etc., etc., etc...)? E vejam! Não estou querendo desqualificar! Apenas trazer realidades distintas de um povo em eterno desenvolvimento versus povo desenvolvido com mais condições de vida. Ok que o povo aqui é batalhador, que não se entrega assim tão fácil diante das adversidades, que o pessoal tem de ser treinado, mas.. Será que é lá na BMW Motorrad da Alemanha? Duvido com todas as minhas forças.

No mais, vai da imaginação de cada um, e saber se nossos montadores tem tanto "carinho" e dedicação quanto os montadores alemães, que vestem a camiseta da BMW. Se estão tão felizes quanto os alemães com seus salários, com a educação que tem no país, o sistema de saúde, previdência, etc., enfim, saber se ao final dá prá fazer um videozinho assim:



Quem sabe? Hoje, não dá prá ter muita noção de como será isso tudo. Hoje, nem com o futebol o brasileiro está tranquilo. Até o futebol alemão, hoje, anda melhor que o nosso...

Mas ainda há uma esperança. Até para a qualidade da montagem em CKD!

Afinal, o que nos diferencia, é que somos brasileiros. E sabemos que sempre poderemos fazer cada vez melhor.

Até breve!



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2 comentários:

  1. Eu não seria tão pessimista. Acho que a BMW não deixaria a Dafra montar as motos sem um alto controle de qualidade. Não tenho conhecimento de queda na qualidade das motos que já estão sendo montadas lá.
    A montagem local obviamente se beneficia da mão-de-obra mais barata, mas será que no final das contas, depois dos investimentos e diante dos nossos custos trabalhistas? Tenho certeza de que o principal atrativo é a redução de impostos na importação. É o que permite a redução no preço final. Não tenho números para validar essa afirmação, é apenas uma "educated guess", um "chute" porém lastreado por alguma informação.
    A BMW fabricou 125.000 motos em 2012, o Pólo Industrial de Manaus fabricou/montou 177.000 só em janeiro daquele ano!! Muita 125cc, mas há motos sofisticadas sendo montadas lá também. Vamos lembrar que o projeto e mesmo a fabricação continuam grigas, só a montagem mesmo +e brazuca.
    Nem sei se dá pra falar em CKD (Completely Knocked Down, ou Completamente Desmontado). Talvez o mais correto seja SKD (Semi Knocked Down), porque se o motor vem já montado (talvez até testado!), qualquer um com um bom manual e as ferramentas corretas conseguiria montar. Ou talvez não.. kkkkkkk
    Não vou dizer que não haja diferenças culturais (e salariais!) entre o operário alemão e o manauara, mas quem conhece o Pólo Industrial sabe que os trabalhadores tem muito orgulho do que fazem lá no meio da selva amazônica, e se ele não existisse provavelmente estariam pescando na beira do rio para alimentar as suas famílias. Acho que as nossas futuras BMW´s estão em boas mãos.
    Forte abraço

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