domingo, 6 de janeiro de 2013

A vida, a morte, os imprevistos, o dia-a-dia e as motos

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Pois é...
Após hospitalização de meu pai - que quase se foi pro "saco da bolacha" e que me fez a partir daí entender um pouco mais o sentido da vida e da morte - que adiou em uma semana minha saída, reprogramei as férias e deixei tudo pronto para a grande viagem. Seria uma "releitura" da que fiz em 2006, mas por caminhos diferentes. Coisa "pequena", de duas semanas e uns 5.000km. Faria parte do que chamamos o tradicional "turistão" só para aportar em Bariloche/AR e comer me babando o meu amado cordeiro fueguino, pelo qual salivo só de pensar! 

Moto nos "trinks". R$ 1.270,00 só em pneus Pirelli Scorpion Trail que encontrei depois de muito procurar na Mototech, próprios para a Buell Ulysses, peça rara por si só. USD 1.000 em cash no bolso, mais outro tanto em pesos Argentinos, Uruguaios e Chilenos. Carteira de habilitação, de identidade, passaporte, lentes de contato, etc. e o escambau. Comprei até comida enlatada tipo lulas, polvo e atum prá parte protéica, bem como barras de proteína, massas em geral e deixei à postos o fogareiro "dual fuel", conjunto de cozinha, tripé, banqueta de acampamento, etc... Só faltava a "carta verde" que já deixei engatilhada por telefone. Dia 4 de janeiro de 2013, 6 da matina, iria para a estrada!!! Finalmente! Depois de uma "secura" de 4 anos!!! Afff!!!
Mas...

Cada dia mais descubro que para vida não basta se programar. Nem prá morte. Imprevistos acontecem. Ou simplesmente "shit happens", como dizem os americanos. Nada mais apropriado. Perfeito se seguido de um sonoro "bull shit".   

Há aqueles que se revoltam. Há os que jogam tudo pro ar e seguem nos planos, custe o que custar, doa a quem doer. Ok que estes normalmente tem transtorno conhecido por autismo, às vezes em grau leve - mas suficiente para não se importarem muito com os demais - e não raro nem sabem disso, podendo passar uma vida inteira sem descobrir (ou descobrirem), achando só que são diferentes, ou que são "o cara", ou, conforme os amigos, "...é um sujeito meio esquisito, mas é boa gente...". Ou então, tem outro tipo de problema físico, mental ou psíquico. Ou simplesmente egocentrismo. Ou, vá lá saber o quê!!! Certo é que quem não se importa, não é normal.

E a vida é assim... Meio maluca, esquizofrênica por vezes, autista por outras, enfim, nada normal. Porém são os imprevistos, a mudança repentina no dia-a-dia que dão o tempero para a vida. Assim que penso... Caso desta maneira não fosse, viveríamos numa linha reta, numa mesmice, numa vida robotizada. Coisa da qual nem se está tão longe e que alguns até preferem. Seria como simplesmente engatar a sexta marcha e seguir numa longa estrada sem curvas, sem paisagem que não areia. Mas agora imagine isso sempre. Imagine pilotar sem a emoção do acelera, freia, debria, puxa prá cima a marcha, enche o motor, deita para um lado, para o outro, põe o corpo para frente, para trás, sobe nas pedaleiras, etc. e tal.
Sei lá... Deve ser porque compramos para a A&K Motos um carro automático e, muito embora o mesmo seja quase uma cama sobre rodas de tão confortável, não me passou emoção. Claro, há que se considerar meu gosto por carros x motos, praticamente nulo para os primeiros. Quiçá fosse um Camaro, vá lá! Ou então deve ser pelo que descobri com prenúncios de morte, com o maldito tânatos nos rondando nesses dias que passaram.

Enfim... Carros são carros, retas são retas, morte é morte, vida é vida, curvas são curvas e motos são motos. Eu sempre, a vida inteira, invariavelmente gostei somente das três últimas, por mais que me explicassem que é justo numa reta que dá para acelerar, ou que um avião decola, por exemplo.

Pois as motos - diferente do carro automático - são vida pura.

Das três semanas que eu antes tinha de férias, me sobraram duas. Saio amanhã? Depois disso? Vou ficar uma semana rodando?

Sinceramente, a essas alturas, quem se importa?

Eu não. Deixei de me importar com os imprevistos do dia-a-dia mas ao mesmo tempo e de forma surpreendente passei a me importar mais com as pessoas e bem menos com as "coisas", como uma viagem ou uma moto. Não que não tenham seu grau de importância, mas sempre estiveram e agora mais ainda vão à segundo plano. Simplesmente porque minha esposa, meu filho, eu, você, meu pai, todos nós, estamos vivos.

E isso é o que realmente importa.

Uma viagem de moto pode esperar, podemos sempre adiar, reprogramar, deixar ainda mais interessante! E não, nunca devemos deixar de fazê-la ou deixar de sonhar com ela. Reforço sempre: corra atrás de seu sonho seja ele qual for. Um belo dia ele acontece, aquela viagem tão planejada sai. E então ela fica melhor ainda, bem mais temperada. O cordeiro fueguino assa por mais tempo e fica mais macio e saboroso.


Mas a vida, ah, meu caro... Fique atento, pois essa não espera nunca, não se pode adiar. E a vida sempre pode lhe surpreender! Portanto, não espere para simplesmente viver!

E claro, andar de moto sempre e assim que puder.

Até breve!!!

5 comentários:

  1. Nota 10, parabéns, maravilha de texto.
    abraço
    Romano
    Tietê/SP

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  2. Valeu parceiro, faça uma linda e emocionante viagem...
    Luiz Carlos Althoff
    Floripa/SC

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  3. Afinal vc saiu ou não de moto?
    Lembre-se q se vc não sair amanhã poderás não estar mais aqui e nuncas reviverá o fueguino. Se és flor hoje serás caveira amanhã..
    Quem tem Buell gosta de curvas...
    Mas close family first!
    Good luck.

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  4. Nos carros eu não faço a menor questão de câmbio manual, na verdade em alguns casos até prefiro o automático (no caso de algum esportivo que pelo menos tenha o modo manual seqüencial para não eliminar totalmente as trocas manuais de marcha quando der na telha).

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  5. Também fiquei no suspense, não rolou a viagem? Ver a Uly 'paramentada' me deixou com inveja. Estou com os Trail novos e um mapa de injeção que deixou ela ainda melhor. Conta aí!

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